Personalidades

António Correia: “Quem não sabe fazer nada, faz muita coisa”

Existem figuras ilustres que ficam para sempre marcadas na história do mundo pelos feitos reconhecidos ou pelo legado que deixaram. Há também, em cada canto regional, pessoas conhecidas e lembradas, que contam estórias a quem por lá passa ou a quem por lá anda – neste texto, vamos falar do Sr. António Correia.

84 anos de sabedoria, natural de Torres Novas, entrou aos 11 anos de idade no Seminário de Fátima, passando por Almada, e por fim nos Olivais, em Lisboa, onde foi ordenado padre da diocese, no ano de 1961. Desde essa data até 1967 foi professor no Seminário de Almada.

Em outubro de 67 até ao final do ano de 74 foi pároco de Palmela. Pelo caminho, esteve preso pela PIDE entre os anos de 1973/74. Deixou a igreja e casou-se em 1975. Toda a vida, foi professor. Desde que chegou a Palmela, nunca mais saiu da vila – já recebeu, inclusive, uma medalha de mérito do município, no ano de 2012.

O Sr. António gosta de escrever e de contar estórias que ponham o seu, como diz, “sótão” a funcionar e confessa que se lembra de tudo “de antigamente”. Nas suas últimas escritas, falou de um nome estranho para alguns, mas que certamente será comum para muitos outros – os carolas, que estão na “na base de muita coisa deste país”.

Os carolas “são aqueles que por iniciativa e desejo próprio gastam o seu tempo em benefício de uma causa coletiva, sem pensar em dinheiro ou ordenados”, explica o Sr. Correia, desabafando achar que “em todas as povoações devia existir um monumento em honra do carola”.

Em Palmela, “há muita gente que se dedica à música” e “quem está na base da fundação são os carolas que se dedicam às coletividades”, mesmo com “licenciatura nessa área”, foi com “os anónimos” que não são “conhecidos, apenas lembrados pelas populações e que mais tarde ou mais cedo se esquecem”, que se aprenderam a dar “os primeiros passos com o ensinamento da leitura das pautas musicais”.

Este é apenas um exemplo de um vasto leque de estórias que o Sr. António tem para explorar e, mais que isso, para contar a quem queira ouvir – ou, neste caso, ler, pelas palavras de quem namora com a escrita.

Na conversa que tivemos com o Sr. António, falou-se dos moinhos e do “Ti Chico” e do “Sr. Humberto”, das “comadres”, da proibição dos jogos de futebol na década de 30, da sua vida, com Zeca Afonso a bater-lhe à porta, da vinda para Palmela, onde foi “muito bem aceite” e do seu percurso riquíssimo, vivido até ao dia de hoje.

O Jornal Concelho de Palmela vai revelando pequenos excertos da conversa que teve com o Sr. Correia, antigo pároco da vila – ele, que num futuro próximo, continuará a escrever crónicas para este órgão de comunicação local.

Deixamos apenas uma sábia frase do Sr. António, que com poucas palavras, muito acaba por dizer – “quem não sabe fazer nada, faz muita coisa”.

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